
Ameaça de golpe, tensão no ar, democracia testada dia sim, dia também…não bastasse sermos assolados pela pandemia do coronavírus, amplificada por uma falta de comando do Governo Federal, o bolsonarismo nos impõe viver também com o medo de revivermos a Ditadura Militar.
Bolsonaro pode até ser derrotado nas urnas em 2022, mas o bolsonarismo vai existir e ter certa relevância por muito tempo. Não só como movimento político, mas também como social. E o Brasil precisa acertar as contas com ele.
A eleição de Jair Messias Bolsonaro em 2018 legitimou o ignorante a ter orgulho de ser ignorante, o xenófobo a ter orgulho de ser xenófobo, o machista a ter orgulho de ser machista. Em resumo: todas aquelas pessoas que ficaram por muito tempo “no seu canto” por receio do surrado conceito do “politicamente correto”, agora saíram da toca e manifestam o seu pior lado sem nenhum medo de represália.
Como bem observou o amigo Allan Simon, o governo Bolsonaro também virou abrigo para os ressentidos, pois “conseguiu capturar todos os que fracassaram de alguma forma em suas áreas e passaram a ter ódio do sistema como um todo”.
E por que o Brasil precisa acertar as contas com esse seu lado? Oras, pois o bolsonarismo escancara a falácia de que somos um país de gente “humilde e hospitaleira”, um povo sempre “alegre e festeiro”, entre outros rótulos que gostamos de colocar em nós mesmos.
Quer fazer um teste? Digite “Brasil país que mais mata” no google. Fiz isso e colhi alguns resultados:
“O Brasil é o País que mais mata por arma de fogo no mundo”
Feminicídio – Brasil é o 5º país em morte violentas de mulheres no mundo
Pelo 12º ano consecutivo, Brasil é país que mais mata transexuais no mundo
Relatório mostra que o Brasil é o terceiro país que mais mata ambientalistas
Este é um país hospitaleiro? País que trata bem o seu povo e os turistas? Então…
Nestes pouco mais de dois anos como presidente do Brasil, Bolsonaro mostrou por A + B + C + D que é um desastre na função. Não trabalha, não comanda, não escala time competente. Seus subordinados, aliás, são especialistas em destruição. Estão destruindo o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Educação (só pra ficar em três exemplos).
Mas Bolsonaro foi até agora muito eficiente em uma tarefa: a de fidelizar o seu público. Hoje o presidente tem pelo menos 20% do Brasil do seu lado, o que lhe deixaria muito perto de um segundo turno (isso se tivermos democracia até lá). Pra quem ficou três décadas como Deputado Federal e não fez NADA de relevante politicamente tanto na Câmara quanto na Presidência, não deixa de ser um feito!
Qual é a saída para escaparmos deste buraco? Acho que só a educação salva. Um país mais instruídos forma pessoas com consciência cidadã e preparadas para, por exemplo, exercer melhor o seu direito de voto.
Mas independente disto, acredito que o Brasil precisa acertar suas contas com a elite do atraso, que ajuda a perpetuar o país desigual que somos e foi uma das principais fiadoras da chegada do bolsonarismo ao poder “para acabar com a corrupção do PT” (ps: que bom que a corrupção acabou agora, não é mesmo?).
Hoje vemos muitos dizendo publicamente que estão arrependidos em ter votado em Jair Bolsonaro em 2018. Mas no segundo turno de 2022, num hipotético Bolsonaro x Lula, quantos destes não repetiriam o voto no atual presidente?
Não sejamos hipócritas: pra elite do atraso, o que importa é ver a esquerda longe do poder. Mesmo que pra isso seja necessário mais quatro anos de Bolsonaro.
E é com esta elite do atraso, boa parte dela alinhada com os valores do bolsonarismo, que o Brasil precisa acertar suas contas.