Cuidem do produto futebol

Quando o produto futebol vai ser melhor gerido no Brasil? Quando as federações e clubes vão tratar o esporte como um espetáculo que precisa ser proporcionado da melhor maneira possível para quem assiste? Será que nutrir esse tipo de esperança me faz ser uma pessoa que acredita em conto de fadas?

Quando olho para o futebol brasileiro, tenho dois sentimentos díspares: ao mesmo tempo que espetáculos como o do último domingo entre Flamengo e Palmeiras me enchem os olhos pela qualidade demonstrada, vejo a Federação Paulista fazendo de tudo para enfiar ‘goela abaixo’ a volta do Estadual mesmo com mais de três mil mortes por covid por dia no Brasil. 

Depois que o Governo Doria e o Ministério Público enfim cederam, a mesma Federação não pensou duas vezes em obrigar clubes como o São Paulo a uma maratona de quatro jogos em sete dias. Para quem pensa que isso é um ‘privilégio’ do nosso Estado, na temporada passada o Palmeiras passou por uma maratona por ter montado um time em condições de disputar todas as competições (no caso, Paulistão, Libertadores, Copa do Brasil). 

Como cobrar desempenho dos jogadores neste contexto? Como esperar um nível técnico alto em toda partida? O Brasil é o único país dos grandes centros do futebol que parece que pune quem monta time bom com maratona de jogos. Acha que estou brincando? Então veja o que o vice-presidente da CBF, Francisco Noveletto, falou sobre o Palmeiras, vencedor da Libertadores 2020.

“Quem mandou ele ganhar tudo? Vê se o presidente do Palmeiras ou algum dirigente abre mão. Ele não é obrigado a jogar. Ele quer ganhar. Ele pode abrir mão. Ele não é obrigado. Mas, não. Ele precisa fazer caixa, ganhar prêmio da CBF, ganhar prêmio de quem patrocina o campeonato. A CBF vai pagar 60 milhões, 90 para a Copa do Brasil. Libertadores, 20 milhões de dólares. É tudo assim. Então, eles não são obrigados. Quem mandou ele ganhar?  Vamos ganhar só metade para não ter esse problema”.

Quando falo sobre o desprezo na gestão do produto futebol, falo sobre os mais variados aspectos. Não se discute uma adequação do calendário. A consequência disso é a banalização dos clássicos e dos jogos na primeira fase dos Estaduais. Quem aguenta ver tanta partida desimportante sempre?

Sobre os jogadores…alguém parece preocupado com o risco de contágio dos atletas? O risco dos membros da delegação? Digo mais…nós da imprensa esportiva falhamos ao não tratar as consequências físicas/psicológicas da covid-19 nos atletas que já contraíram a doença. Simplesmente o tratamos como máquinas. Recuperado da covid? Bora cobrar o mesmo tipo de desempenho que cobrávamos antes.

Ainda sobre as competições: que tipo de ações extra-campo estão sendo feitas para os torcedores que não podem mais ver o seu clube no estádio? Outro dia estava conferindo a temporada 3 da série Drive to Survive, do Netflix, e me surpreendi com uma iniciativa simples, mas que acredito ser efetiva para a relação entre ídolos e fãs: quando os pilotos entravam no autódromo, eles eram obrigados a parar em um totem para conversar virtualmente com fãs pré-selecionados pela organização. Na temporada passada da NBA, aparecia uma imagem virtual dos torcedores acompanhando de casa em tempo real a partida. Simples? Talvez. Mas muito melhor/mais sofisticado do que os bonecos com as fotos dos fãs que os clubes brasileiros proporcionaram para quem comprasse um ingresso virtual.

Na última sexta (9), o meu colega Rodrigo Mattos informou em sua coluna no UOL que os grandes clubes brasileiros perderam 270 mil sócios-torcedores desde o início da pandemia do coronavirus. Coincidência? Pra mim, é um sintoma claro de que falta ideia criativa para reter o fã de futebol.

Menos jogos. Mais planejamento. Mais respeito aos atletas. Mais carinho com o torcedor. Mais criatividade para reter o fã do futebol brasileiro. 

Cuidem do produto futebol brasileiro. Não é pedir muito.

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2 comentários em “Cuidem do produto futebol

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