Nesta última semana, dois textos tiveram bastante repercussão, principalmente nas redes sociais, pois abordavam um mesmo assunto de pontos de vista opostos.
Ruth Manus, em seu blog no Estadão, falou sobre A geração que encontrou sucesso no pedido de demissão. A blogueira ilustrou a sua argumentação da seguinte forma: “O cenário é mais ou menos esse: amigo formado em comércio exterior que resolveu largar tudo para trabalhar num hostel em Morro de São Paulo, amigo com cargo fantástico em empresa multinacional que resolveu pedir as contas porque descobriu que só quer fazer hamburguer, amiga advogada que jogou escritório, carrão e namoro longo pro alto para voltar a ser estudante, solteira e andar de metrô fora do Brasil, amiga executiva de um grande grupo de empresas que ficou radiante por ser mandada embora dizendo “finalmente vou aprender a surfar”.
Alguns dias depois, aqui nesta plataforma do Linkedin, Yasmin Gomes, talvez indignada com a aprovação ao texto (“Tive cólicas de tanto rir”), escreveu uma publicação em que falava sobre A juventude que não pode largar tudo para viajar o mundo. “Eu acho lindas as histórias da “geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão”, mas elas podem gerar um sentimento de depressão muito maior do que de inspiração”, argumentou.
Compartilhei ambos os textos na minha timeline do Facebook. No último, fiz o seguinte comentário: Interessante o contraponto, apesar do tom rancoroso da autora. Existe gente que largou tudo e foi fazer do que gosta e teve sucesso, assim como existe gente que não consegue fazer nada disso porque tem contas a pagar e obrigações a cumprir. Acho que devíamos parar de achar que tudo é 8 ou 80. Isso empobrece o debate. Devemos é ler estas experiências de vida e buscar o que for melhor pra nós
Gostaria de aproveitar este espaço daqui e ir além. Faço votos para que esta geração (ou a próxima) esteja preparada em todos os sentidos: econômica, educacional e psicologicamente para escolher o que bem entender.
Hoje em dia, muitas pessoas são infelizes no trabalho ou no cargo que ocupam, mas ‘aceitam’ porque a remuneração permite que elas tenham uma vida interessante/agradável/feliz fora do trabalho. Muitas pessoas aceitam a infelicidade profissional porque “tem bocas para sustentar”, ou porque “jogar tudo pro alto” significa impactar diretamente na vida das pessoas que elas amam.
Tenho certeza que boa parte destas pessoas repete como se fosse um mantra: “se eu pudesse, largaria tudo e venderia brigadeiro”. Aí que eu pergunto: será que seria assim mesmo? Não basta você ter liberdade para jogar tudo pro alto. Você precisa estar “bem resolvido” na sua cabeça de que esta é realmente a melhor decisão a ser tomada. Afinal de contas, você vai ter que administrar as consequências da sua decisão.
O advento das novas tecnologias e o crescimento econômico recente do nosso país nos últimos anos permitiram aos brasileiros realizar escolhas complexas. Desde “largar tudo e trabalhar em um hostel” a “me manter infeliz neste trabalho porque ele me dá pouco dinheiro, mas o suficiente para sobreviver”.
Mas, como bem ilustra o filósofo Mário Sérgio Portella nesta entrevista para a BBC Brasil, este cenário tão complexo gera crises e dúvidas existenciais.
“A lógica para minha geração foi mais fácil. Qual era a lógica? Crescer, estudar. Era escola, e dependendo da tua condição, faculdade. Não era comunicação em artes do corpo. Era direito, engenharia, tinha uma restrição. Essa overdose de variáveis gerou dificuldade de fazer escolhas. Isso produz angústia em relação a esse polo do propósito. Por que faço o que estou fazendo? Faço por que me mandam ou por que desejo fazer? Tem uma série de questões que não existiam num mundo menos complexo. Não foi à toa que a filosofia veio com força nos últimos vinte anos. Ela voltou porque grandes questões do tipo “para onde eu vou?”, “quem sou eu?”, vieram à tona”.
Era mais fácil não ter que decidir porque existiam poucos caminhos a serem seguidos. Hoje é muito mais complexo: temos várias opções para escolhermos o que é bom para nós. Estes casos de sucesso citados por Ruth Manus em seu texto mostram que existem saídas. Comprovam que ‘basta’ seguir o caminho destas pessoas? Não. Cada um tem a sua realidade. Mas pode aproveitar estas boas histórias para construir a sua própria trajetória de felicidade.
Tudo isso posto, gostaria de encerrar deixando a seguinte mensagem: antes de tomar uma decisão tão drástica que acarretará consequências radicais na sua vida, se pergunte: você está preparado para seguir em frente? Está disposto a assumir os riscos? Se a resposta for sim para as duas perguntas, não tenho dúvidas em aconselhar:
SE JOGUE!