Onde foi que perdemos a capacidade de debater com argumentos?

Texto originalmente publicado no site Onda

Um belo dia, em uma rede social, um amigo compartilhou uma foto da deputada federal Luiza Erundina, do PSOL-SP, pedindo a saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Foi aí que começou o ‘debate’

Pessoa 1 – “O sujo falando do mal lavado”
Pessoa 2 – Não concordo com sua posição e, não há nada que desabone a senha Luiza Erundina da Silva, ok?
Pessoa 1 – Se vc confia nesse lixo de político, entendo pq vc não apoia a saída da presidenta. Opinião minha ok?

Na tentativa de entender se a pessoa 1 tinha argumentos para defender a tese de que a Erundina é um “lixo de político”, interagi com ela, mesmo sem conhecê-la.

“Por que a Erundina é um “lixo de político”? Queria entender”, perguntei.

Eis que recebi a seguinte resposta, repleta de bons argumentos: Cada um com sua opinião querido! Não sou obrigada a gostar do que vc acha bom pra si. Eu e Sandro já nos entendemos. Obrigado! De nada

Sim, isto aconteceu. Foi real. Eu vivenciei. Ninguém me contou. E não está em questão se a deputada Luiza Erundina está correta ou não. Se ela é honesta ou não. A questão deste post é a falta de argumentos para o debate.

Onde foi que perdemos a capacidade de debater com argumentos? Salvo raras (e boas exceções), os debates estão pautados da seguinte forma: vence quem ‘ataca’ melhor, quando na verdade, em primeiro lugar, não deveria haver ‘vencidos’ ou ‘derrotados’. Todos ganham com um debate saudável. Todos tem sempre algo para aprender com o outro. Onde foi que esquecemos disso?

Percebo outro problema que emburrece o debate: as pessoas não conseguem entender que, em determinadas situações, 2 + 2 pode ser igual a 5. Também não conseguem entender que, em uma discussão de ideias, as duas pessoas podem estar certas, as duas pessoas podem ter dito verdades. Só que cada um analisou a mesma situação de um ângulo diferente.

E neste contexto, os valores acabam sendo distorcidos, principalmente quando o debate é no campo político. Se uma pessoa faz um post no Facebook criticando um ato ilícito de um político ligado ao PT, fatalmente vai ler na sua timeline algum comentário do tipo: e o político do PSDB que faz a mesma coisa e ninguém fala nada? Ou seja: não discutimos o ato ilícito. Discutimos quem fez o ato. Pior: discutimos se o amigo criticou ou não quem fez o ato. Ou seja: a pauta está errada, é superficial. A discussão fica rasa.

Acredito que a onda de intolerância que assola o país também contribuiu para o emburrecimento do debate. As redes sociais (Facebook principalmente) viraram o ‘lugar certo’ para as pessoas desabafarem, mostrarem o que existe de pior nelas. Muitos postam um comentário e depois pensam. O que deveria ser um local de reflexão e de debates, vira um local de troca de agressões.

Como reverter este quadro? Investindo em educação. Quem lê mais, reflete mais. Tem mais argumentos. Aprende mais. Pode debater melhor. E, se tiver estômago para lidar com quem quer só provocar, eleva o debate. Todos ganhamos com isso.

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