No mês passado, dois acontecimentos mostraram o quanto ainda patina e agoniza o Brasil olímpico, apenas dois anos antes da realização dos Jogos do Rio de Janeiro. Como um país que vai organizar um evento tão grandioso como esse tem a capacidade de tratar tão mal dois medalhistas olímpicos?
Arthur Zanetti e Maurren Maggi passaram por problemas vergonhosos. E não foi por culpa deles, mas sim por incompetência de quem comanda o esporte. Ouro na ginástica na Olimpíada de 2012, Zanetti ameaçou fazer greve por falta de pagamento de salários. Ouro no salto em distância em Pequim-2008, Maurren teve que fazer vaquinha na internet para conseguir recursos para treinar.
Sim, é isso que você está entendendo. O Brasil conseguiu 23 medalhas de ouro EM TODA A SUA HISTÓRIA. E duas delas foram conquistadas por atletas que hoje tem dificuldades para treinar.
Não estou entrando nem no mérito da estrutura. Porque se for falar disso, terei que lembrar que Zanetti só conseguiu aparelhos decentes para treinos porque ameaçou competir por outro país nas Olimpíadas.
É uma situação que me dá vergonha. A gestão do esporte olímpico, no geral, me envergonha, com raras exceções. Zanetti e Maurren, só me resta pedir desculpas. Vocês não merecem isso.
COB e Laís Souza
Recentemente, outro acontecimento mostra o quanto o andamento do esporte olímpico tem (muitos) problemas. Como uma entidade com acesso a uma verba tão vultosa e cheia de patrocinadores, como o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), não tem condições de financiar o tratamento da atleta Lais Souza, a ponto de organizar uma vaquinha nas redes sociais?
Tem algo errado aí…
* Atualização do post – dia 18/03, às 18h15
Em conversa com o camarade Demétrio Vecchioli, que cuida do blog Olimpílulas, do Estadão, atualizei meu post com algumas informações que ele passou e eu não tive acesso. Segundo ele, Zanetti recebe R$ 15 mil de bolsa do Governo e está com ótimas condições de treino. Achei muito bom saber disso. Mas o post é válido porque houve em algum momento o tratamento inadequado de um campeão olímpico do país, e isso tem que ser criticado.
Demétrio pondera que Maurren só não ganha mais verba do Governo porque não conseguiu resultados condizentes com uma bolsa maior. Que isto faz parte de uma regra da Confederação de Atletismo decidida e acatada por todos. Ponderação justa, mas sigo achando que alguém que conquistou ouro olímpico aqui no Brasil merece um tratamento digno de um patrimônio do esporte nacional. Pelo menos enquanto o nosso desempenho continuar sendo muito aquém das grandes potências. E até que obter o lugar mais alto do pódio numa Olimpíada deixe de ser uma raridade.
Maurren nunca mais vai conseguir competir em alto nível? Então que se possibilite uma despedida decente, e que ao menos se proponha a ela uma forma inteligente dela seguir prestando seus serviços para o esporte olímpico brasileiro mesmo fora das pistas. Se ela vai aceitar, é outra história. Mas o convite precisa ser feito.
Crédito: Reprodução
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