O movimento intitulado Bom Senso FC realizou na rodada deste meio de semana do Brasileirão mais uma série de protestos pelos gramados do país, que ficaram marcados principalmente pela criatividade mostrada pelos jogadores para driblar a censura dos árbitros.
O lance a que me refiro aconteceu no jogo entre São Paulo e Flamengo em Itu, na última quarta-feira. Antes de a bola rolar, o árbitro Alício Pena Junior reuniu todos os jogadores e explicou que se eles não tocassem na bola após o apito inicial – como estava combinado para acontecer em todas as partidas da rodada por causa do Bom Senso FC – ele iria dar cartão amarelo.
Ficou a dúvida em quem estava assistindo ao jogo: será que os jogadores iriam se submeter ao ato censor da comissão de arbitragem e deixariam de protestar? Foi aí que veio a resposta positiva: os atletas tocaram a bola de um lado para o outro, sem avançar, numa forma muito criativa de driblar a proibição e deixar marcada a intenção do movimento de mostrar que não concorda com os rumos que a CBF tem dado ao futebol brasileiro.
Muitos dizem, para mim com razão, que a gente só tem a real noção de um movimento histórico tempos depois do seu acontecimento. Por viver no mesmo instante da existência do evento, a gente perde o distanciamento necessário para analisá-lo de forma mais racional. Penso que isto aplica ao Bom Senso FC, que já é histórico, mas provavelmente será mais valorizado daqui a alguns anos.
Não vivi de perto a Ditadura Militar, mas sempre me chamou atenção a forma criativa com que alguns dos compositores mais brilhantes da nossa história conseguiram escrever letras de protesto que passaram pelo crivo dos censores. Nesta meio de semana, o Bom Senso mostrou que pode seguir o mesmo caminho caso as forças que comandam o futebol brasileiro se utilizem da censura para tentar minimizar a repercussão do movimento. Cabe ao torcedor agradecer e apoiar a esses jogadores que dão a cara para bater em prol de melhorias no futebol nacional.
Crédito da foto: Vinícius Costa/ Agência Preview
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