O segundo capítulo da final da Copa Sul-Americana no ano passado conseguiu ter mais histórias pitorescas que o primeiro. Foi a primeira decisão que eu cobri que não chegou ao fim.
Fui escalado para a cobertura ao lado do meu amigo João Henrique Marques. Para quem não se lembra, os jogadores do Tigre partiram para cima de Lucas e começou um tumulto generalizado no intervalo. Passaram-se os 15 minutos, e só o São Paulo voltou para o gramado. O que teria acontecido com os argentinos?
Eis que as TVs informaram, e a redação nos avisou: o Tigre não voltaria ao gramado. Os jogadores alegaram que foram agredidos pelos seguranças do São Paulo. Tensão, muita tensão. Falei para o João que iria para o vestiário do Tigre. Não vi quando o árbitro terminou a partida e foi decretado o título do Tricolor.
É difícil trabalhar em ocasiões como esta, porque as informações são muito desencontradas. Cada um diz uma coisa, e no calor do momento fica muito difícil checar quem está com a razão. Fui ouvir o desabafo do Tigre, quando veio a informação: eles vão dar queixa na polícia. Foi aí que tive a certeza de que a noite de trabalho não teria fim.
Eu e João fomos primeiro a um Distrito Policial e demos com a cara na porta, daí fomos ao correto. Chegando lá, estavam os jogadores, e aí começaram as histórias engraçadas. A primeira bizarrice foi que um membro da família de um dos atletas quase foi preso por desacato a autoridade por, como posso dizer…QUERER IR AO BANHEIRO!!! Ele queria ir, mas o local era dentro da delegacia, e os policiais estavam restringindo o acesso. O argentino ficou indignado e começou a discutir com as autoridades, que o ameaçaram. Não conseguia não rir de episódio tão bizarro.
Mas o melhor estava por vir, e seria protagonizado pelo grande João Henrique Marques. Ele ficou de passar um retorno do que estava acontecendo para a redação. Sua função era dizer quais jogadores do Tigre que estavam na delegacia. Ele passou sete nomes.
Até aí, tudo bem. Eis que veio a ligação da redação:
– João, tudo bem? Chequei todos os nomes que você me passou, só não achei um aqui. Coneridas. É isso mesmo?
– É sim, pode cravar.
João cravou, mas ele mesmo não tinha certeza. E falou isso para os amigos Diego Ribeiro, do Globoesporte.com, e Fernando Faro, do Estadão. Eis que um deles fez a pertinente observação:
– João, será que você não se confundiu quando o argentino disse que um dos jogadores estava con heridas (com feridas, em português)?
Sim. Toda a cobertura valeu a pena.
Crédito da foto: João Henrique Marques/UOL
Para quem ficou curioso, segue o link do relato da segunda final:
Lucas decide final tumultuada e São Paulo volta a ser campeão em jogo com abandono do Tigre
E o de uma das confusões na delegacia:
Durante depoimento à polícia, comitiva do Tigre causa tumulto e reafirma que foi ameaçada
Em tempo:
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