Na semana passada, tivemos o caso da demissão do colega Flávio Gomes, da ESPN Brasil, após xingar a instituição Grêmio e os seus torcedores no Twitter após a questionada vitória contra a Portuguesa, time que ele torce. Este caso fez trazer à tona uma reflexão: até onde um jornalista pode ir no microblog?
O Twitter é um caso de estudo constante, pois se trata de uma ferramenta ao mesmo tempo extremamente útil e traiçoeira para o jornalista. Útil como fonte de informação, exemplo da saída de Felipe Massa da Ferrari, anunciada por ele mesmo no microblog.
Mas a utilidade pode virar perigo em duas situações: quando o jornalista se rende apenas ao Twitter e não questiona, não apura, podendo ser vítima da ‘esperteza’ de algum fake. Ou se ele acredita tanto se tratar de uma ferramenta pessoal que se acha ao direito de fazer o que bem entender, inclusive “brincar” de forma mais agressiva.
O jornalista esportivo que abre uma conta no Twitter, por mais que não queira, tem a sua vida exposta, principalmente àqueles que trabalham com futebol, o esporte mais passional de todos. Escorado pelo anonimato que o microblog proporciona, o torcedor monitora, briga, xinga e em alguns casos até ameaça de morte, como foi o caso dos gremistas com o Flávio Gomes, segundo relatos dele próprio.
O jornalista, no microblog, fica com a sua opinião cerceada pela censura dos torcedores passionais. Além disso, fica praticamente proibido de torcer. Que profissional de imprensa que não tem vontade às vezes de reclamar de um jogador do seu time de coração quando o mesmo perde uma chance incrível de gol?
Por isso, muitos optam por excluir sua conta no Twitter, caminho escolhido pelo meu camarada Thiago Arantes, da ESPN Brasil, e que eu entendo perfeitamente. O fato é que, de uma maneira geral, nós não aprendemos a mexer no microblog e ainda não sabemos exatamente os riscos que corremos com ele. O que, no caso de Flavio Gomes e de outros profissionais demitidos por excessos nas redes sociais, pode acabar gerando consequências muito drásticas em suas carreiras.
Acho que a frase do Flavio no final da entrevista para Luiz Paulo Montes, que trabalha comigo no UOL, ilustra bem o que eu quero dizer. “A única coisa que lamento é que uma ferramenta de internet influencia decisões dramáticas. As pessoas não entendem direito o funcionamento”.
Sou favorável ao Twitter. Acho que o jornalista tem que saber utilizar, mas com moderação e desconfiança, o que é um desafio inclusive para mim. Felizmente ou infelizmente, a profissão impede que os profissionais de imprensa façam 100% do que tem vontade no microblog, e é assim que tem que ser.
Crédito da foto: Reprodução
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Cara, acho que ainda não há um parâmetro de bom senso com as ferramentas de mídias sociais. A tecnologia é maravilhosa por aproximar pessoas que antes jamais travariam um embate de ideias… Mas ao mesmo tempo a proximidade é tão grande que todos se revelam “humanos demais” aos olhos dos torcedores.
Há o desentendimento por parte da audiência, que exige dos profissionais/celebridades um comportamento de máquina, assim como há o exagero destes mesmos profissionais.
Um exemplo de uma conta online de uma celebridade que muito me agrada é o Lord Sugar (@Lord_Sugar), que é um executivo famosíssimo aqui no UK. Ele sabe combinar elementos pessoais, profissionais e ainda algumas polêmicas e discussões com internautas. Mas qual é o segredo dele? Não faço a menor ideia.
O que acho ser a solução a curto prazo mais razoável é que os jornalistas entendam que o twitter se torna automaicamente uma extensão do seu trabalho, mesmo que seja uma ferramenta que expresse opiniões estritamente pessoais. A partir daí, uma mudança de entendimento da audiência pode começar a ser sugerida… Contudo, essa discussão ainda vai muuuuito longe…
Grande Beto, brigado por acompanhar o blog!